Transformadores sem fronteiras

Foi com lotação máxima que começou o encontro dos “Transformadores sem Fronteiras” com refugiados empreendedores, no restaurante EAT, ontem em São Paulo. Encontro esse, que foi realizado pela segunda turma do Programa de Protagonismo Criativo da Polifonia e teve um motivo especial: a integração entre a cultura brasileira e as novas culturas. Foram eles os astros da noite, que, inclusive, coloriram as caçarolas comandadas pelo renomado chef, Bruno Alves (Kød Burguer e Delika). Precisa dizer mais alguma coisa?

O intuito desse diálogo entre brasileiros e novos brasileiros foi, justamente, promover a interação entre pessoas anônimas, assim como todos nós com histórias de vida distintas, por meio de algo em comum, a comida. O cardápio contemplou um toque brasileiro a especialidades da Síria, da Costa do Marfim, da Faixa de Gaza, do Marrocos, do Haiti e do Congo, uma mistura que deu muito certo.

Para que a plateia de degustadores conhecesse os novos brasileiros, cada um se apresentou, em português, inclusive, e expôs seus sonhos e seus projetos para sobreviver. A gastronomia prevaleceu entre eles, digamos que foi quase unânime.

Ao comentar o cardápio, Bruno Alves fez questão de salientar o quão gratificante essa experiência gastronômica se mostrou a ele como pessoa, como cidadão e como chef de cozinha. “Estar aqui hoje é transformador e nos faz compreender como essas novas culturas estão presentes em nosso dia-a-dia. Afinal, foram eles, os imigrantes, que nos ajudaram a construir nossa própria cultura e, portanto, têm grande influência no que comemos hoje aqui no Brasil”.

A iniciativa faz parte do modelo pedagógico da Polifonia – Escola de Protagonismo Criativo –  na qual os participantes aprendem fazendo. Os desafios propostos no programa incluem situações na qual os participantes podem exercitar técnicas de gestão de projetos, trabalho em equipe, liderança, comunicação, gestão de conflitos, negociação, promoção, além de permitir a manifestação e o desenvolvimento de competências fundamentais para os protagonistas, embasados nos cinco pilares do programa: Presença, Empatia, Audácia, Significado e Autonomia.

Na ocasião, Daniel Gurgel, co-fundador da Polifonia. em um discurso emocionado, ressaltou a responsabilidade enorme em participar do momento, uma vez que se conhece o desafio de cada um desses refugiados, que largarem uma vida para começar outra sem ter a menor segurança, sem saber o que os esperaria por aqui, em terras tropicais. “Como paulistanos, sabemos que podemos acolher essas pessoas, pois temos essa cultura e temos certeza de que, juntos, podemos somar e agregar. É com orgulho que reitero os protagonistas dessa noite, ao lado dos refugiados é claro, os nossos alunos. Afinal, foram eles que sugeriram a temática, tiveram a ideia e desenvolveram o evento. Vale dizer que nosso compromisso com esses refugiados começa hoje e seguirá em construção”.

Feitas as apresentações, foi a vez da exibição das animações “Ivine and Pillow” que integra a campanha “Unfairy Tails”, promovida pelo Unicef, por conta da crise dos refugiados na Europa. A animação, feita por uma produtora brasileira que é liderada por Luciana Pessoa, alumni da Polifonia, acaba de ser vitoriosa em Cannes – foi premiada com cinco leões, incluindo o prêmio máximo do festival. O resultado foram os olhos cheios de lágrimas como consequência de sentimentos e lembranças por parte dos novos brasileiros e dos demais presentes.

Ao retornarem às mesas, os refugiados começaram a conversar com os participantes, de modo a detalhar suas histórias de vida e, inclusive, aproveitar para mostrar suas produções. No caso de uma refugiada síria que faz artesanato, por exemplo, ela encantou a mesa com suas bolsas, echarpes e demais artefatos. Um bom ‘gosto’ que caiu no ‘gosto’ dos brasileiros!

O jantar contou com o apoio da Project Hub, Impact Hub, Produtora Consulado, UNICEF, Adus, Abraço Cultural, Kød Burguer e Delika.