O caminho da inovação
Por Marcos Hashimoto*
Já está comprovado que poucos setores, se é que existe algum, possuem empresas que possam se dar o luxo de ser competitivas e crescer sem pensar em inovação. Poucas buzzwords do mundo dos negócios se tornaram tão unânimes e incontestáveis quanto a necessidade de inovar para qualquer tipo de negócio. Há tempos que o tema inovação saiu do âmbito das divisões de pesquisa e desenvolvimento das empresas e centros de estudos científicos e tecnológicos para tomar lugar nas discussões de empresas de qualquer porte ou natureza.
O motivo para tal febre é que a inovação, ou a capacidade de trazer coisas novas, diferentes, de alto valor e replicável em escala, possui inúmeros usos e aplicações para as organizações, indo além da concepção de novos produtos e serviços ou novos atributos a produtos e serviços já existentes. Vejamos algumas das aplicações da inovação:
Mercado: qualquer empresa pode levar seus atuais produtos e serviços para novos mercados. Nesse sentido, poucas mudanças são necessárias ao seu portfólio de produtos; em muitos casos, apenas pequenas adaptações. A inovação de mercado implica ampliar os horizontes de alcance da empresa para novas localidades e segmentos e diferentes perfis de consumidores. Uma empresa de jardinagem que presta serviço para residências pode começar a atender empresas, com exatamente os mesmos serviços.
Processos: essa inovação acontece quando se reinventa parte do processo interno da empresa, seja ele produtivo ou administrativo, de forma a aumentar a eficiência, reduzir os custos, melhorar a qualidade ou a produtividade. Normalmente está associado com a inserção de algum tipo de tecnologia, mas muitas inovações em processos advêm da própria revisão de procedimentos para identificar e eliminar gargalos e ineficiências. A mesma empresa de jardinagem pode trocar suas enxadas por roçadeiras porque a tecnologia barateou nos últimos anos.
Organização: repensar a estrutura organizacional é redesenhar a forma como a organização está construída, mudando caixinhas de lugar, juntando e desmembrando departamentos ou criando novas divisões de negócios. Inovar nos desenhos organizacionais é adotar estruturas que facilitem a comunicação interdepartamental e facilitem o processo decisório em torno do negócio. Voltando à nossa pequena empresa de jardinagem, eles podem decidir terceirizar a mão de obra para se concentrar nas competências-chave da empresa, que são percebidos como diferencial pelo mercado.
Cadeia de valor: pouco explorada, a inovação na cadeia de valor implica descobrir novas formas de se relacionar com empresas que contribuem com a construção de valor, incluindo parceiros, fornecedores e clientes. As formas mais comuns de inovar na cadeia de valor é a verticalização de partes do processo. No nosso exemplo da empresa de jardinagem, ela pode escolher produzir e vender adubos orgânicos que antes ela comprava já pronto de outras empresas.
Marca e imagem: a marca e a imagem refletem a identidade da empresa e de seus produtos. Redefinir esses componentes é redefinir a própria identidade. Normalmente vinculado a estratégias de reposicionamento de mercado, a inovação em marca e imagem requer iniciativas em conjunto com iniciativas de marketing. No nosso exemplo, a empresa pode adotar um urso panda como mascote, representando um ícone que a relaciona sua imagem àsustentabilidade.
Estratégia: uma forma comum de inovar sem mexer em produtos é repensar a estratégia geral da empresa. Isso implica recombinar fatores e recursos existentes em busca de modelos de negócio diferentes, e também pode ser uma reconfiguração do planejamento, objetivos e metas. Para facilitar a distinção entre mudanças na estratégia e na organização, pense que a estratégia geralmente é competitiva. Nossa pequena empresa de jardinagem pode organizar mutirões de limpeza de parques públicos para divulgar sua marca e gerar mídia espontânea.
Valor: inovar na criação de valor é mais do que criar novos produtos ou serviços, é desenvolver mais formas de solucionar problemas do cliente ou atender suas necessidades. É o foco no cliente e naquilo que é importante para ele. Conhecer o valor do cliente muda as perspectivas do negócio, ampliando as possibilidades. No nosso exemplo, saber que o cliente contrata uma empresa de jardinagem para a tarefas obrigatórias e rotineiras, mas que ele tem prazer em cuidar de suas plantas e vê-las crescer pode levar a empresa a treinar seus jardineiros a não apenas fazer o serviço esperado, mas aproveitar cada oportunidade de contato com o cliente para dar-lhes dicas práticas de rega, poda e tratos que o cliente vai valorizar.
Podemos pensar em outras formas de inovar no relacionamento, na plataforma, na presença, com pessoas, na gestão financeira, na cultura interna, nas lideranças, com concorrentes etc. Se pensarmos bem, o escopo de aplicação do pensamento inovador não tem fim. As limitações para pensar em formas diferentes de inovar em nossos negócios, como tudo que envolve a capacidade de ter ideias criativas, está na nossa cabeça.
* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo, consultor e palestrante (www.marcoshashimoto.com)