Joy: o nome da empreendedora

o nome da empreendedora

Por Marcos Hashimoto*

Não é difícil assistir “Joy – O nome do sucesso”, e se inspirar no sonho americano do self made man (neste caso, woman), e tirar muitas lições para se preparar para empreender o seu próprio negócio. Neste texto, vou resumir algumas destas lições, nem todas elas óbvias ao assistir ao filme pela primeira vez, mas quem assistiu ao filme fará as conexões das cenas com as lições facilmente.

O que mantém nossa autoconfiança – Todos nós precisamos de um suporte em momentos de crise, algum apoio para não cairmos. Este apoio, no filme, vem pelas palavras de Mimi, a avó de Joy. É importante lembrar que as palavras de Mimi, encorajando Joy, mesmo sem saber nada do negócio dela, são repletas de verdade genuína, uma crença honesta de que o sucesso está mesmo reservado para Joy porque, ao contrário das palavras vazias que as pessoas insistem em nos dirigir quando estamos mal, Mimi compreende Joy, conhece ela melhor que Carrie, a mãe de Joy. Muito de nossa autoconfiança é alimentada pela crença que as pessoas têm em nós, pessoas em quem também confiamos, pessoas que sabemos que não mentiriam para nós e cuja opinião reforça as estruturas que nos impulsionam para frente.

O despertar de um talento – Precisamos olhar mais para nossas próprias competências. Nossos talentos se manifestam desde cedo e nem sempre prestamos atenção a eles. Joy sempre teve imaginação fértil, desde criança, inventando brinquedos e fantasiando a realidade à sua volta. É a imaginação que fertiliza a criatividade e é a criatividade que a faz conceber soluções simples para problemas comuns, como sua primeira invenção, uma coleira para cães à prova de enforcamento, que sua mãe, na época, se recusou a patentear para a filha, perdendo a oportunidade do negócio.

Competências forjadas nas circunstâncias – Qualquer um pode olhar para esta família e pensar: “como alguém pode pensar em empreender com uma família destas?”. Joy parece ser a única pessoa equilibrada na família, tem duas crianças pequenas, um pai antissocial que mal consegue manter seu negócio, uma mãe viciada em novelas, um ex-marido que só quer saber de tocar e vive no porão da sua casa, uma meia-irmã invejosa. Além disso, ela abriu mão da faculdade para ajudar a sustentar a família, faz reparos domésticos e ajuda nos negócios do pai. Pois é justamente por isso que Joy dá certo no final. Uma vida difícil nos caleja e nos torna objetivos, racionais, diretos e pragmáticos. Enquanto a maioria desiste nas primeiras dificuldades, Joy insiste e as supera, pois já está acostumada com as barreiras na sua vida.

O mito do empreendedor-herói – Mas não vamos nos iludir, antes de ver Joy como a heroína que todos queremos seguir e cuja história tem grande potencial de nos inspirar a empreender, na verdade, não queremos esta história para nós. Você pode ter a mais absoluta certeza que, se Joy soubesse, desde o começo, os problemas que teria com as patentes, que não teria receptividade ao seu produto no início, que ela seria presa e que o canal de vendas pela TV não iria dar certo, ela não teria nem entrado no jogo do empreendedorismo. Se ela entrou e venceu é porque ela não tinha mais como voltar atrás. Quando você hipoteca sua casa e assume uma dívida que pode destruir sua vida, dar errado não é mais uma opção. O desespero foi o combustível de superação de Joy e nenhum de nós está preparado para enfrentar estas circunstâncias.

A dependência de terceiros – O maior problema que Joy enfrentou foi o da patente. Era justamente um problema que ela não podia resolver. O empreendedor sempre dá um jeito de resolver um problema que depende dele, ele até adquire novas competências para fazer o negócio acontecer, como vender o seu produto na TV. No caso da patente, entretanto, Joy foi mal assessorada por advogados que não conheciam o tema e o preço pago por este erro foi altíssimo. Não importa quão competente você seja, o seu negócio vai exigir competências e conhecimentos que você não domina e você sempre vai depender de terceiros. Ela teve sorte, muita sorte, de os seus parceiros serem pilantras e acabarem forçados a negociar com ela para se safar, caso contrário, nossa história não teria um final feliz.

Família, família, negócios à parte – Obter um empréstimo de um parente pode ser muito bom, afinal, as relações familiares prevalecem sobre as relações de negócios. Por isso, no Brasil, esta precisa ser a primeira fonte de recursos financeiros. O filme mostra que na cultura americana a coisa não é bem assim. Trudy, a viúva milionária que namora com o pai de Joy, se mostra aberta para investir no negócio nascente de Joy, mas sabatina a empreendedora como qualquer investidor e exige uma contrapartida para reduzir seu risco, forçando Joy a hipotecar a casa. Separar família de negócio pode não ser condizente com nossa cultura latina, mas é extremamente necessária, pois uma relação de confiança não necessariamente se reflete em uma relação lucrativa.

De onde surgem as ideias – Ao contrário do que muitos pensam, o empreendedor não fica pensando no produto que vai inventar para desenvolver um negócio. As melhores ideias vêm espontaneamente, por acaso, normalmente diante de uma situação específica, como um problema ou uma necessidade. Foi andando com o cachorro na rua que Joy teve a ideia da coleira. Ao se cortar com os vidros da garrafa de vinho ao limpar o convés do barco de Trudy foi que ela teve a ideia do seu esfregão. Se estivermos atentos ao que acontece à nossa volta, se treinarmos nosso olhar e nossa percepção, vamos identificar um monte de boas ideias de negócios, todos os dias. Como diz o famoso lema da criatividade: “Para se ter uma boa ideia, é preciso ter muitas ideias”.

O olhar do investidor – As quatro perguntas do investidor: 1) Onde você estudou? Esta pergunta busca saber se o empreendedor tem uma formação mínima, indicando o quanto a educação é importante para o investidor americano; 2) Como você era na escola? Esta é uma pergunta aberta, que pode revelar muito sobre o empreendedor e a resposta certa não necessariamente é ‘um bom aluno que só tirava boas notas’; 3) Você está preparado para dar retorno sobre o investimento dentro de seis meses? Esta é a visão pragmática do investidor no qual a reação do empreendedor é mais importante do que a resposta em si. Empreendedores são seguros o suficiente para não pestanejar na resposta positiva; 4) Existe uma arma na mesa e a única pessoa com você na sala é seu concorrente direto, só um pode sair. Você pegaria a arma? Pegar a arma não significa que você vai atirar, mas certamente é você quem tem o controle. O investidor quer saber se o empreendedor fará o que for preciso para manter o controle do negócio.

O ‘Não’ faz parte do processo – Vamos contar quantos ‘nãos’ Joy ouviu no filme:

  1. Da família, quando ouviu sua ideia de negócio;
  2.  Da Trudy, quando viu a primeira apresentação da ideia;
  3. Dos advogados, quando tentou registrar a patente;
  4. Das mulheres no estacionamento;
  5. Dos policiais sobre vender o esfregão em frente a um supermercado;
  6. Do amigo do Tony sobre a reunião na QVC;
  7. Do Walker depois do primeiro pitch dela;
  8. Da família quando a TV fracassou;
  9. Do Walker quando negou uma nova chance;
  10. Do Walker quando ela quis vender em frente às câmeras;
  11. Da fábrica de peças da California quando se recusaram a manter o preço;
  12. Da polícia de Los Angeles quando não acreditaram que ela não tinha invadido a fábrica;
  13. Do Rudy quando acreditou que Joy poderia ser mais do que uma dona de casa desempregada;
  14. Do Gerhardt quando não repassou os direitos da patente.

O empreendedor vai ouvir muito mais ‘nãos’ do que ‘sims’. Isso é fato.

O ‘Sim’ também – Por outro lado, Joy só precisou ouvir o ‘sim’ de duas pessoas, da Trudy e do Walker e o resto é história. Assim como muitos empreendedores, Joy quer mudar a vida de outras pessoas que, como ela, sofrem para fazer suas ideias se transformarem em negócios e abre um escritório para atender estes inventores e se tornar o ‘sim’ definitivo que estes inventores precisam ouvir. O que nós fazemos na polifonia é ajudar estes empreendedores a aumentarem suas chances de conseguir o seu ‘sim’.

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